Morre aos 81 anos o fotógrafo que revelou o Brasil para o mundo, Sebastião Salgado
- Assessoria de Comunicação
- May 23
- 2 min read

Sebastião Salgado - foto: Instituto Terra
Opinião - Leonardo Sakamoto
Salgado provou que imagens doem mais que socos e mudam mais que bombas
A morte de Sebastião Salgado não apaga a luz crua — e necessária — que ele jogou sobre as feridas abertas da humanidade. Seu nome não era apenas um dos mais respeitados da fotografia, mas também um sinônimo de denúncia, empatia e resistência. Usando o preto e o branco para enfrentar os tons de cinza da condição humana e de suas misérias, ele lembrou que imagens podem ser mais poderosas que armas.
Nascido em Aimorés, Minas Gerais, escolheu a estrada poeirenta dos excluídos e percorreu os cantos do planeta. Em "Trabalhadores" (1993), mostrou o suor e o sangue de quem leva nas costas o tal "progresso". Em "Terra" (1997), retratou a condição dos trabalhadores rurais sem-terra e outros excluídos atacados por sua resistência, livro que contou com texto de José Saramago e música de Chico Buarque. Em Êxodos (2000), expôs o caminho dilacerado de refugiados sociais e econômicos que são obrigados a fugir de guerras, fome e miséria.
Suas fotos não emolduravam a tragédia, pelo contrário, esfregavam-na de forma fácil de entender na cara de um mundo que não gosta de ler nada que o tire da zona de conforto.
No Brasil, seu trabalho foi um soco no estômago da hipocrisia social. A série que produziu sobre Serra Pelada, no Pará, em 1986, revelou o inferno dourado do garimpo, onde milhares de miseráveis viravam formigas em busca de migalhas do sonho capitalista. Ao listar as 25 imagens que definem a modernidade, o The New York Times escolheu uma delas.
Salgado não era só um fotógrafo. Era um militante pela humanidade com uma câmera na mão. Tanto que exilou-se na França, durante a ditadura, para ter a liberdade de mostrar o que precisava ser mostrado.
Junto com Lélia Wanick Salgado, sua companheira de vida e de lutas, plantou o Instituto Terra, na mesma Aimorés em que nasceu, provando que a esperança é uma semente teimosa — mesmo em solo arrasado. Dedicava-se, nos últimos anos, à organização do seu acervo. Ou seja, de sua versão da História de nosso tempo.
Ele se foi, mas suas imagens continuam vivas, porque elas não são registros, são testemunhos eternos da resistência humana e também um convite permanente à reflexão e à transformação. Levam esperança aos locais onde a lama encharca os pés, por mostrar que as pessoas não estão sozinhas na dor. E provocam constrangimentos naqueles que reluzem a ouro, por mostrar que elas são poucas.
Algumas histórias não podem morrer. Por que ainda precisam doer. Por que ainda precisam mudar o mundo.
Descanse em luz, mestre.
Por Leonardo Sakamoto - Colunista do Uol
Instituto Terra
Comentarios